Marinho Pinto: "Temos de acabar com o carreirismo"
Marinho Pinto condena que haja "uma imensidão de pessoas a gravitar em torno dos partidos" e, embora não queira julgar o trabalho dos eurodeputados portugueses, vinca que "alguns não fizeram nada" em Bruxelas. Outros, refere ainda o antigo bastonário da Ordem dos Advogados, vêem o lugar no Parlamento Europeu como uma "prateleira dourada" porque "estão à espera de outros voos", isto é, da "oportunidade para serem líderes partidários". E assegura que vai a votos no próximo dia 25 com as bandeiras da "liberdade, justiça e igualdade", uma vez que quer uma "Europa dos cidadãos", ao invés de uma "Europa do dinheiro".
Tem feito várias críticas às famílias políticas em que PS, PSD e CDS se inserem, nomeadamente às promessas eleitorais incumpridas. Isso inviabilizaria que viesse a integrar uma lista desses três partidos?
Sim, dificilmente integraria uma lista de um desses partidos porque eles nunca põem os interesses do povo português em primeiro lugar. Servem clientelas específicas, aquela imensidão de pessoas que gravitam em torno dos partidos, que só têm emprego quando o partido está no poder.
Quais são os pilares, as bandeiras, do MPT com os quais mais se identifica?
Liberdade, combater o medo na sociedade portuguesa e na Europa, defender intransigentemente as liberdades individuais e as coletivas. A justiça, que temos de pôr a funcionar. Num país onde a justiça funcione mal, como em Portugal, nada vai funcionar bem. As cadeias estão cheias de pobres, mas aqueles que são condenados a pagar milhões... os processos prescrevem ou conseguem absolvições e safam-se sempre. E solidariedade. As sociedades produzem riqueza suficiente para garantir condições de dignidade à pessoa humana.
Que propostas concretas leva Bruxelas?
A eliminação das taxas moderadoras para pessoas a partir de certa idade, isentar as suas pensões porque o que estão a receber foi aquilo que constituíram ao longo da sua carreira contributiva. Sobretudo, políticas que densifiquem um programa social do Estado.
Em 2009, afirmou que a abstenção poderia ser lida como a recusa de "mais do mesmo" e, na altura, Paulo Rangel acusou-o de estar a ser populista e demagogo. Como encara esse tipo de acusações?
Eu não defendi isso, disse que ia abster-me. O que disse e repito foi que se os portugueses deixassem de votar era uma vergonha para os nossos políticos. Paulo Rangel é um oportunista político, no sentido de que aproveita todas as oportunidades para ocultar as suas próprias deficiências políticas, como anda a fazer agora em relação ao despesismo. A prova de que não penso isso é que agora estou aqui a disputar estas eleições. Mas o povo está cansado dos nossos políticos. Eles perderam toda a credibilidade perante a população que dizem representar. Um deputado que seja eleito para a Assembleia da República ou para o Parlamento Europeu não tem qualquer compromisso com quem o elegeu, tem com quem o escolheu porque senão da próxima vez não é candidato. Temos de acabar com o carreirismo em política.
O trabalho dos eurodeputados portugueses tem ficado aquém do exigível?
Não quero fazer esse julgamento, mas se não fosse isso o povo iria votar, iria escolher, não fugia das eleições como está a fugir.
É a falta de transparência que o preocupa?
Disse bem, falta de transparência. Não podemos deixar o Governo e os deputados em roda livre, é preciso que prestem contas permanentemente e não nos termos em que o fazem, que é mera propaganda, algumas piruetas sem conteúdo. Há algumas vedetas que não fizeram nada, alguns até tratam mais dos seus interesses.
A quem está a referir-se?
A ninguém em especial...
Está convicto de que vai ser eleito?
Gosto muito de citar um grande pensador da contemporaneidade que dizia que "prognósticos só no fim do jogo". A maior invenção da humanidade a seguir à roda foi o voto secreto.
Por que razão rejeitou o convite para um debate na Associação 25 de Abril?
Nesta coisa de eleições, não há uma primeira liga e uma segunda. Se a Associação 25 de Abril queria realmente respeitar os princípios democráticos e achava que um debate com 16 candidatos poderia não ser viável, fazia dois ou três e sorteava os participantes. Eu recuso-me a participar numa segunda liga, em que quem me convida me menoriza à partida.
Recuemos um pouco. Corrobora a tese de que o Parlamento Europeu tem sido uma "prateleira dourada"?
Só é uma prateleira dourada para quem não quiser trabalhar. Quem quiser, tem muito para fazer. Nós tivemos lá alguns que são bons e nem todos ficaram porque, de facto, os interesses partidários não escolhem os melhores. Só é prateleira para aqueles que estão à espera de outros voos, que estão à espera de ser líderes dos partidos e vão esperar pela sua oportunidade.
Não vir de um aparelho partidário pode favorecê-lo. É assim que pretende continuar: quase um "não político" que vai a jogo?
Isso do não político é com o professor Cavaco Silva, ele é que não faz política, nunca a fez e é contra os políticos. Eu sou político, estou a fazer política agora e sempre a fiz. Eu fui convidado muitas vezes para me candidatar por alguns partidos e nunca aceitei. Aliás, posso dizer que é um ponto que me distingue de todos os candidatos: eles foram escolhidos pelos seus partidos, eu escolhi o partido pelo qual me candidato.
Admitindo que não venha a ser eleito, não fecha as portas a uma candidatura à Presidência da República?
Deixe-me utilizar os termos da canção do José Mário Branco: "Eu venho de longe, de muito longe e vou para muito longe." Quando entro na política não fecho a porta a nenhumas eleições. Aliás, aquelas em que se vai discutir verdadeiramente o Governo português vão ser as legislativas. Não sei como vai ser no próximo ano.